Peças teatrais, oficinas, palestras, dança, música, exposições, debates e muita diversidade cultural, tudo isso multiplicado por 30. Trinta dias foi o período que aconteceu o Festival Palco Giratório SESC Paraíba 2009, nas cidades de Campina Grande e João Pessoa.
O Cine teatro do SESC Centro, em Campina Grande, abrigou grande parte dessas atividades, mas outros lugares também fizeram o “Palco Girar”, como: a Praça da Bandeira/Centro, o Palácio das Artes Suellen Carolini, o Teatro Municipal e a Universidade Federal de Campina Grande. Na capital, as apresentações aconteceram no SESI, no Teatro Santa Roza, na Praça de Cem reis e no Piollin.
Um cortejo fez a abertura do projeto pelas ruas centrais de Campina Grande, onde aproximadamente 5.200 pessoas puderam ver um colorido desfile de grupos de dança, música e teatro, animando a início do Festival.
Em média 6.000 pessoas compareceram ao Cine Teatro do SESC Centro para assistir aos trinta espetáculos que passaram pelo local. Já as seis apresentações de Teatro de Rua foram assistidas por 7.200 pessoas.
No Suellen Carolini 2.100 crianças, de escolas públicas e particulares, puderam contemplar as peças infantis que foram exibidas. As apresentações de dança e música foram exibidas durante 13 dias na Praça da Bandeira/Centro cerca de 12.000 cidadãos campinenses apreciaram o talento de vários dançarinos e cantores locais.
Nas palestras ministradas pela Dr. Maria de Fátima, do Departamento Nacional do SESC – RJ, 60 pessoas debateram e discutiram artes cênicas, teatro contemporâneo e atividades promovidas pelo SESC na área da cultura. As oficinas de Teatro e Circo ensinaram novas técnicas e aprimoraram o pensamento crítico de 90 participantes. Além de tudo isso 12 mil campinenses admiraram as exposições que se encontravam no SESC Centro, uma que exibia o acervo do Grupo de Projeções Folclóricas Raízes e outra que prestava uma homenagem aos Beatles, intitulada Lucy in the Sky with Diamons (Lucy em um céu com diamantes).
Esta foi a estreia da Paraíba como estado receptivo do Palco Giratório, ideia que já percorre o Brasil há onze anos; Campina foi a primeira cidade do interior do país que abraçou o Festival.
Foram 16 apresentações nacionais com grupos de vários estados de norte a sul do país e uma da França, todas presentes no calendário anual do evento. Além disso, mais 27 espetáculos paraibanos de diversas companhias, abrangendo cidades de leste a oeste, também brilharam. João Pessoa recebeu oito espetáculos nacionais.
Cerca de 300 atores de vários locais do país, 13 grupos de dança com aproximadamente 200 dançarinos e 20 grupos musicais fizeram parte das equipes que formavam as companhias.
A cidade ganhou
A população se mostrou bastante satisfeita com tudo o que apreciou, a exemplo da dona de casa Jaqueline Alves (41), de Campina Grande:
“Esse Festival é muito importante para a nossa cidade, porque temos a oportunidade de conhecer diferentes produções artísticas, tanto da Paraíba quanto do Brasil inteiro, que não estamos acostumados a ver no nosso dia-a-dia. É o maior evento que já vi em Campina e fico encantada com as apresentações que assisto. Isso valoriza a cultura nacional.”
O Palco Giratório movimentou os funcionários do SESC Paraíba que se uniram para executar o festival, desde os presidentes, contadores, gerentes, coordenadores, os auxiliares de serviços gerais, estagiários e etc. Garantiu também oportunidades para várias pessoas, com a criação de empregos temporários como as vagas de camareira, iluminador, sonoplasta, auxiliar de pessoal e ajudante de palco.
O comércio da cidade foi movimentado com a produção de material gráfico para divulgação, hospedagem dos atores em hotéis de Campina e alimentações em restaurantes, locação de veículos e motoristas, além da construção de uma estrutura adequada de luz, áudio e palco na praça.
Oportunidade de expor talento e identidade cultural
Para os grupos nacionais, uma oportunidade de “girar” por todo o país, levando a cultura do seu estado a outros estados e conhecendo um pouco das diversidades brasileiras. E para os grupos paraibanos, uma chance ímpar de mostrar seus trabalhos a pessoas de todo o Brasil, podendo também concorrer na votação que elegerá as peças que se apresentarão no próximo ano, pelo SESC Nacional.
Além disso, cantores e dançarinos tem a oportunidade de adentrar no Festival para divulgar o que fazem e saírem do anonimato, mostrando à Campina o que é de Campina, sendo valorizado dentro de sua própria cidade e sendo assistido por pessoas de todo o país. É o caso do diretor Edílson Alves (44) que tem 30 anos de teatro e mora em João Pessoa.
“A experiência de estar aqui está sento fantástica, fazer e contribuir na programação do Palco Giratório em Campina Grande é um prazer para todo artista, de qualquer que seja a cidade ou a companhia teatral. Além disso, o teatro do SESC tem uma química bacana”. Diretor teatral Edilson Alves, 44 anos de idade e 30 anos de experiência no palco.
O que é Palco Giratório?
É um projeto do Departamento Nacional do SESC que muda o cotidiano das cidades por onde passa, reinventa territórios e derruba fronteiras. Uma proposta que vai além da simples circulação de espetáculos: veicula processos e pensamentos, distribui e capta conhecimentos.
A primeira edição aconteceu em 1998, após dez anos de um completo e cuidadoso estudo sobre a situação das artes cênicas do Brasil. O Festival fez com que o Teatro e a Dança se difundissem e chegassem a vários lugares, criando ambientes afetivos e democráticos para o exercício da cultura nos quatro cantos do país. Com o tempo foram introduzidas oficinas, intercâmbios, histórias e vivências múltiplas, fazendo do Palco Giratório o maior projeto de circulação de artes cênicas do país.
Para a escolha das peças que percorrerão o país, os 27 curadores de todos os lugares do Brasil assistem ao Festival em outros estados, isso os auxilia a aprender como olhar e analisar os espetáculos.
Cada um leva peças do seu estado para serem avaliadas pelos outros curadores, eles se unem e passam 10 dias confinados em algum lugar do Rio de Janeiro, defendem ou criticam as peças que assistiram, fazem uma votação para a escolha dos 16 espetáculos que entrarão na programação do próximo nacional; a divisão deve abranger teatro infantil, de rua, de animação, de palco e dança, além de ser dividido de uma forma que garanta a predominância da diversidade regional.
O Teatro no Brasil:
Quem introduziu o teatro no Brasil foi o padre jesuíta José de Anchieta, objetivando utilizá-lo para superar a barreira comunicativa entre as línguas latinas e o tupi-guarani para cumprir sua missão de catequizar os povos indígenas. Mas, com o tempo o teatro no Brasil desvinculou-se do sagrado e construiu uma forte identidade no gênero profano. No século XIX, já com os horizontes ampliados e sendo produzido autores importantes como o Martins Pena e atores respeitados como João Caetano, as manifestações cênicas se expandiram.
Vários projetos espalhados pelo país fizeram com que o teatro chegasse de norte a sul do Brasil. Personalidades importantes tiveram a preocupação de introduzi-lo até mesmo nas cidades do interior.
Um exemplo disso é o que ocorreu na década de 50, quando o teatrólogo e paladino Paschoal Carlos Magno, por iniciativa e recursos próprios, fez sete edições do Festival Nacional de Teatro de Estudantes, entre tantos outros projetos e tantas outras pessoas que espalharam pelo país a arte teatral.
Desde 1998, a pluralidade do teatro brasileiro é multiplicada pelo Festival Palco Giratório, um projeto nacional gerido pela rede SESC que apresenta ao Brasil os diferentes 'brasis' - dando de certa forma continuidade as ações de personagens que construíram a história do teatro brasileiro.
Severino Florenço (50) é de Pernambuco. Ele tem 30 anos de experiência teatral como ator e diretor e afirma que está satisfeito com o Palco Giratório.
“Já havia participado do Palco Giratório em maio de 2008, em Recife, mas estou pela primeira vez na Paraíba. É importante estar neste Festival porque a produção ganha espaço circulando pelo país, é uma grande oportunidade, pois só fazer teatro na cidade onde vivemos é um pouco limitado e esse evento visa à expansão”.
OLHOS
“Campina Grande foi a primeira cidade do interior brasileiro a receber o Palco Giratório”
“O volume financeiro em Campina Grande aumentou devido ao número de turistas e a movimentação nos setores de hotelaria e comércio”
“(...) É uma grande oportunidade, pois só fazer teatro na cidade onde vivemos é um pouco limitado e esse evento visa à expansão” - Severino Florenço (ator e diretor pernambucano)
“O projeto Palco Giratório permitiu, ao longo de sua trajetória, que todas as regiões do país participassem de uma rede de distribuição e recepção de bens culturais, conjugando atividades formativas e de fruição. Hoje consolidado como iniciativa das mais relevantes para a cultura no país, o projeto apresenta a arte genuína, regional, rica na sua brasilidade, uma mistura de sotaques com a marca da diversidade” Maron Emile Abi-Abib (Diretor-geral do Departamento Nacional do SESC PB)
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* Reportagem de Rackel Cardoso